Rede de Profissionais da Música tem protocolado documentos com inúmeras sugestões de medidas para o setor, mas sem respostas oficiais.

Um Projeto de Lei Ordinária que autoriza a utilização do Fundo Municipal de Cultura para ações de assistência aos trabalhadores e trabalhadoras da cultura em Curitiba, enquanto perdurar a pandemia de COVID-19, aguarda a assinatura de apenas um vereador ou vereadora para ser votada na Câmara Municipal. Articulada pela Coragem – Rede de Profissionais da Música de Curitiba, a proposição foi apresentada no legislativo como uma iniciativa das vereadoras Maria Leticia, Professora Josete e Marcos Vieira.

Além da PL de auxílio emergencial, profissionais desenvolveram conjuntamente três documentos – um a nível municipal e dois de nível estadual – com sugestões de medidas que podem ajudar o setor musical pelos próximos meses. Enquanto o país segue sem nem secretária de cultura, profissionais passam dificuldades para sobreviver e veem a possibilidade da volta dos eventos cada vez mais longe com o afrouxamento do isolamento social. “A incerteza do retorno do calendário de eventos tem gerado muita ansiedade. Pensar em como tudo vai funcionar e manter os negócios ativos durante esse período de isolamento tem sido desafiador. Me preocupa muito toda a cadeia envolvida”, salienta a produtora cultural e criativa do Um Baile Bom e Caixa Preta, Brenda Santos.

O compositor, produtor, pesquisador e diretor da Feira Internacional de Música do Sul, que aconteceria em junho, conta que a Rede procurou a prefeitura por diversas vezes e não obtiveram um retorno oficial. “Enviamos uma série de propostas e somente a FCC nos recebeu. Como o Fundo Municipal está contingenciado, não há muito o que eles possam fazer além de editais pontuais que já lançaram e outros que estão estudando. Mas o que foi apresentado está longe de ser suficiente para atender uma demanda mínima de redução de prejuízos”, enfatiza o artista que também teve uma turnê na Europa em um dos maiores festivais de Portugal, shows pelo interior do Paraná e outras cidades do Brasil cancelados..

“Não vejo nenhuma ação efetiva da Prefeitura de Curitiba frente às nossas reivindicações. Tenho a sensação que nossa área não é respeitada como trabalho, é como se o entendimento fosse de que temos outras profissões, conseguimos nos virar nesse momento de pandemia. É como se não soubessem que a indústria do entretenimento e cultura movimenta 5% do PIB brasileiro”, ressalta a produtora cultural Bina Zanette, que entre os shows cancelados e adiados está o Brasis no Paiol, projeto já conhecido das curitibanas e curitibanos e que está em sua oitava edição.

O iluminador, montador de estruturas e rigger, Julio Cesar Fernandes Machado, tem prestado trabalho voluntário na Família Camisa Preta, grupo de técnicos de som, luz, roadies, led e carregadores, entre outros profissionais da equipe técnica e artística, que está promovendo a campanha #salveagraxacwb , lives com artistas curitibanos que busca arrecadar cestas básicas e fundos para a categoria. “Nunca uma live vai se igualar a um show onde o público está ali a metros do palco, sentindo a vibração dos graves, médios agudos ou até mesmo a sensação mágica da iluminação e pirofagias. Jamais poderá ser comparada um espetáculo de teatro ao vivo vivendo a emoção do som e da luz, a magia do cenário e do texto a expressão corporal vistas do auditório. Todos seremos prejudicados, tanto nós que fazemos os shows acontecerem como o público que vai assistir em uma tela fria e sem essência nenhuma”, lamenta Júlio.

Outra realidade que parece passar despercebida pela Prefeitura de Curitiba e Governo do Estado do Paraná é a quantidade de pessoas envolvidas na cadeia produtiva de eventos culturais. De acordo com o produtor e sócio-proprietário do Basement Cultural, Fernando Ferreira, que teve todos os eventos cancelados até novembro, cada show envolve no mínimo 15 pessoas: atendimento de caixa e bar, seguranças, limpeza, equipe técnica, hostess, gerente, sem contar DJs, produtor e banda. A solução para tentar manter as contas em dia foi se reinventar. O empresário usará o estacionamento como drive-in, com transmissões do espetáculo por rádio.

Mas não são todos os estabelecimentos com área descoberta que podem receber carros. A Caiçara, conhecida por fomentar a música brasileira com apresentações ao vivo e cozinha litorânea, finalizou a reforma da sua área externa uma semana antes de precisar fechar as portas devido ao isolamento social. Os proprietários fazem parte do movimento “Fechados pela Vida”, uma manifestação que luta para que o setor de gastronomia e entretenimento receba suporte do governo para enfrentar a pandemia de portas fechadas. “Uma das coisas que a pandemia escancarou é a importância da cultura. Está todo mundo em casa ouvindo música, enquanto os artistas estão sem suporte nenhum. Não vejo a hora de poder retornar as atividades, mas não temos uma previsão de quando isso vai acontecer. Quando reabrirmos o restaurante, não teremos a atividade musical, pelo menos não cinco dias na semana. Tanto pelo risco de contaminação, como pela nossa situação financeira.”, lamenta a empresária.